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"Ex-Inspector da Polícia Judiciária afirma saber o que se passou com Maddie !"



 

Dr. João De Sousa Consultor Forense

Hoje, 22 de Maio de 2023, não acordámos com o Galamba ou com o computador do ex-adjunto do Galamba, ou mesmo com o Costa a falar do Galamba, ou com os comentaristas a falarem do que todos estes disseram ou sobre o que outros dizem sobre o que tantos outros afirmam que disseram os mesmos...




Nada disso, hoje fomos "despertados" para mais uma diligência no caso do desaparecimento de Madeleine McCann, outra diligência em que a nossa Polícia Judiciária vai colaborar, não porque a cooperação internacional assim o exige, mas sim porque não tem capacidade técnica para dizer a qualquer polícia do mundo, financiada ou não pelos pais da Madeleine, o seguinte:

"Investigámos a questão, colocámos as questões pertinentes, procedemos de acordo com as melhores práticas nacionais e internacionais, este foi o protocolo que seguimos, está aqui para que possam replicar infirmando ou confirmando as nossas conclusões, portanto, Caríssimos, não façam a Polícia Judiciária portuguesa perder tempo, operacionais e meios em algo que já concluímos que se trata de...."


Pois é, a Polícia Judiciária portuguesa não consegue afirmar nada disto porque não soube fazer bem!

Fonte: Expresso, Observador, SIC Notícias

A 8 de Maio de 2017, aquando da travessia do meu Inferno, escrevi o texto "Maddie e a P.J.", opúsculo publicado no blogue "Dos Dois Lados Das Grades": https://dosdoisladosdasgrades.wordpress.com/?s=maddie)

Excerto do texto do blogue "Dos Dois Lados das Grades": "Maddie e a P.J." (8 de Maio de 2017)

O respeito devido à memória daqueles que já não estão entre nós é mensurado através da lembrança dos actos que os mesmos gravaram na nossa memória: o já falecido Dr. Pinto Monteiro, na altura do desaparecimento e sequente investigação do "Caso Maddie", Procurador-Geral da República, contribuiu de forma decisiva para a incompetência dos envolvidos e para o momento presente.

Como Napoleão Bonaparte (1769-1821) afirmava que "uma cabeça sem memória é uma praça sem guarnição", relembro-Vos: o Dr. Pinto Monteiro, Procurador-Geral da República, é o mesmo que esteve em Paris a falar com José Sócrates, mas não conversaram nada sobre o processo-crime do ex-Primeiro-Ministro, apenas falaram sobre livros numa pastelaria parisiense...

... "La Bohème, la Bohème / Ça voulait dire tu es jolie / La Bohème, la Bohème / Et nous avions tous du génie..."


Em 2017, todos os envolvidos e com responsabilidades na investigação do "Caso Maddie", demonstravam com orgulho e maior despudor que leram com muita atenção Hans Christian Andersen (1805-1875) e tinham muito gosto em contar histórias ao povo português.

Cultos incompetentes, defendiam que as roupas do Rei (investigação realizada pela P.J.) eram invisíveis e somente as pessoas inteligentes como eles conseguiam ver as belas vestes do monarca!


O então Director-adjunto da P.J., Dr. Pedro do Carmo, afirmava na altura que a grande dificuldade encontrada foi a natureza única do "Caso Maddie", assumindo sem o saber - normalmente é o que os estultos fazem - que quando a dificuldade é grande, ou seja, quando não existem escutas telefónicas ou se apresenta a lista telefónica aos suspeitos ou quando o "chibo" não é encontrado e espremido e quando é necessário existir cientificidade, capacidade de decisão, planeamento estratégico, os resultados da Polícia Judiciária portuguesa são fracos ou inexistentes!


Peter Drucker (1909-2005): "O Conhecimento tem de ser melhorado, desafiado e aumentado constantemente ou vai desaparecer."


A 2 de Janeiro de 1993, era redigida, à máquina (de escrever) uma Informação de Serviço onde era relatado o aparecimento da primeira vítima do indivíduo que nunca foi "apanhado" pela P.J. e que ficou conhecido pelo "Estripador de Lisboa":

Informação de Serviço (2 de Janeiro de 1993)

Decorridos 30 anos, ainda hoje, presentemente, se relata o que sucedeu em cenários de crime através de um documento, um modelo da P.J. (OGPJ 023) que serve igualmente para "meter férias", solicitar que o superior hierárquico justifique uma multa, a solicitação da mudança de pneus de uma viatura ou para solicitar mudança de brigada, secção, departamento.

30 anos durante os quais não existiu qualquer tipo de evolução no que diz respeito à cadeia de custódia da informação e muito menos quanto à sacrossanta cadeia de custódia da prova.






24 anos depois, no "Caso Maddie", a evolução não se verificou, o "Conhecimento não foi melhorado":

Excerto da Informação de Serviço redigida, em computador, aquando do desaparecimento de Maddie McCann (4 Maio 2007)

O "Caso do Estripador de Lisboa" é paradigmático do que não se deve fazer, ou melhor e para ser mais correcto com os meus ex-colegas, do que ainda não se sabia fazer.

De um amadorismo extremo, com diligências realizadas ad hoc, tudo dependia da maior ou menor dedicação dos elementos que estavam com a investigação.

Veja-se este exemplo de uma diligência que é realizada relativamente ao apuramento de um perfil do "Estripador".

Porque o Agente decidiu aproveitar a deslocação ao Instituto Nacional de Medicina Legal, já agora, vamos perguntar ao Dr. Jorge Costa Santos o que é que ele "acha da coisa".

O Professor, surpreendentemente, até muito achou com recurso ao "olhómetro opinativo":

O "achamento" do Professor Jorge Costa Santos (Janeiro de 1993)

O Estimado(a) Leitor(a) contemporiza, defende os elementos da P.J de 1993, do século passado, invocando as circunstâncias e os usos do tempo...

Joana Cipriano (2004)

Bom, tem em parte razão, mas se eu o informar que aquando da diligência realizada para encontrar o corpo da Joana Cipriano, na companhia do tio desta, o Coordenador responsável pela coordenação (estou a hiperbolizar claramente) Dr. Gonçalo Amaral, dirigia o condutor da retroescavadora consoante a direcção do olhar do tio, João Cipriano, provavelmente não vai acreditar em mim.





No caso do "Estripador de Lisboa", 1993, só passado algum tempo, meses, é que os agentes da P.J. "acharam" que estariam na presença de um assassínio em série ("serial killer") ainda que um dos investigadores acreditava, era "levado a crer", que o autor da morte de uma das vítimas não era o mesmo que das outras, perdendo-se dessa forma tempo e informação essenciais para evitar mais mortes:

Peça processual do inquérito 1/93.3 JDLSB (24 Maio 93)

No caso da Maddie McCann, a certa altura a P.J. envia uma equipa de Lisboa para analisar o trabalho realizado pelos colegas do Algarve: analisar, sanear e corrigir.

Em pleno século XXI, primeira década de 2000, a P.J. não dispunha qualquer tipo de protocolo escrito, regras de actuação no terreno (e ainda não dispõe) para realizar Inspecções Judiciárias em cenários de crimes contra as pessoas (homicídios e crimes sexuais).


As diligências ainda são muitas das vezes realizadas porque a comunicação social, após a P.J. libertar o local, encontra testemunhas ou mesmo vestígios no espaço que deveria ter sido "devidamente analisado e de forma minuciosa" (como declaram os Inspectores da P.J. em Tribunal, a instância do Ministério Público).

Vejam-se os casos das investigações à morte de Luís Grilo (Caso Rosa Grilo), o caso do corpo que apareceu em vários sacos de plástico no Cadaval (alguns dos sacos encontrados pela SIC após ter estado a P.J. no local a realizar a useira e costumeira diligência que permite disponibilizar o local "devidamente analisado de forma minuciosa".

Cadáver de uma das vítimas do "Estripador de Lisboa" (1993)

Interessante notar que cerca de 30 anos após o "Caso do Estripador de Lisboa", a P.J. não evoluiu e não aprendeu nada com os seus erros e limitações.


Os procedimentos "informais" são o hábito e todos nós sabemos que o erro nasce dos hábitos.

Lembro uma ocasião em que estava reunido com a Coordenadora Superior de Investigação Criminal (CSIC) do D.I.C. de Setúbal, Dra. Maria Alice Fernandes e o actual Director Nacional da P.J., Dr. Luís Neves, ligou para esta.

O Dr. Luís Neves questionava a C.S.I.C. (é mais fácil para mim escrever assim do que estar a escrever "Superior") sobre o que fazer no caso da Joana Cipriano, tinha homens envolvidos na investigação aquando da queda das escadas da mãe da Joana (Leonor Cipriano).


A CSIC, Dra. Maria Alice Fernandes, aconselhou e ofertou linhas de investigação/justificação.

A CSIC, Dra. Maria Alice Fernandes, é a coordenadora que solicitou que eu realizasse uma diligência um pouco atípica, mas que era hábito da mesma solicitar aos seus funcionários: consultar um bruxo que trabalhava com pêndulos!

Eu deveria falar com este "bruxo dos pêndulos" que me informaria onde estaria o corpo de um indivíduo que, depois de realizar a devida investigação sustentada na ciência do séc. XXI, encontrei na Serra da Arrábida.

Um colega meu, também colocado no D.I.C. de Setúbal, Inspector de Homicídios, acedeu ao pedido da Sra. Coordenadora à qual o actual Director da P.J. solicitava aconselhamento: o "bruxo dos pêndulos" disse que o corpo estaria nas lezírias de Vila Franca, perto de um barracão... o Inspector ainda chegou a deslocar-se ao local e "meteu ajudas de custo"!


No "Caso da Maddie", os elementos da P.J. que foram de Lisboa para o Algarve para salvar a "face à Instituição", evoluíram, não recorreram a um "bruxo dos pêndulos", recorreram ao UNI - Sector de Análise da DCICPT e a 5 de Fevereiro de 2008, o Inspector P.D., qual "bruxo dos pêndulos", apresentou as conclusões a que chegou após aturado labor de análise:

Excerto do Relatório de Análise da P.J.: Caso Maddie McCann (5 Fevereiro 2008)

A questão que se coloca é esta: "Como é que este funcionário da P.J. vai analisar o que foi feito, bem ou mal feito, realizado ou por realizar, se a P.J. não possuía protocolos de actuação (assim como não dispõe dos mesmos presentemente) para realização de Inspecções Judiciárias em crimes de cenário?


No indíce podemos ler "Metodologia Adoptada".

Creio que o funcionário analista se refere à metodologia que adoptou para analisar o processo, porque a metodologia que os elementos da P.J. do Algarve utilizaram na investigação realizada não está registada nos autos.


O Coordenador que coordenou esta gente toda é o mesmo Dr. Gonçalo Amaral que mandava escavar consoante a direcção do olhar do João Cipriano, tio da Joana!


Percebem agora o porquê da Polícia Judiciária portuguesa ter de "auxiliar sem atrapalhar" as polícias estrangeiras?

É porque não ofereceram qualidade, exactidão e resultados idóneos.


A P.J. portuguesa não melhora, desafia ou aumenta constantemente o seu Conhecimento, sua forma de actuar, logo, como afirmou Peter Drucker, corre o risco de desaparecer.


Eu posso escrever tudo aquilo que aqui Vos deixo, eu estive lá, mas não estive somente a utilizar o livre trânsito para ir ver o Sporting-Benfica ou os "Coldplay".

Eu estive activa e dolosamente a incomodar os meus superiores e pares, a questioná-los, a criticá-los, por vezes de forma muito contundente.

Eu estudei o erro e pensei os procedimentos (tenho comigo, analisados, os processos do "Estripador de Lisboa", o "Caso Joana" e o "Caso Maddie").


A maior riqueza da Polícia Judiciária portuguesa são as mulheres e os homens que a servem, mas também pode ser a sua maior falha.

Conhecer implica pensar, avaliar seriamente o que se fez e antecipar o erro planeando a acção a realizar.


Em 2017 escrevi, mas acabei por não responder à questão:

Excerto do texto do blogue "Dos Dois Lados das Grades": "Maddie e a P.J." (8 de Maio de 2017)

Respondo agora, em 2023, agora que a Maddie é novamente notícia.


O que é que aconteceu à Maddie MacCann?

Aconteceu que a Polícia Judiciária foi notória e tristemente INCOMPETENTE!

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